Poema de Walter José Faé, lido pelo autor durante cerimônia em homenagem aos atiradores da turma de 1949 do Tiro de Guerra de Americana, realizada na praça Basílio Rangel em 17 de dezembro de 1949.
Os tristes peitos feridos
Lembram hoje, entristecidos,
A hecatombe já passada.
Passada sim, mas vivida
Ficou no peito e na vida
Da gente desventurada.
Foi o inferno, amargurante
Que envolveu num curto instante
A cidade em pranto e mágoas.
Oh! quantas vidas ceifadas
Dantescamente levadas
Pela inclemência das águas.
Da tromba o rumor atroa
É o dilúvio que atordoa
Metendo medo e pavor.
Há gritos alucinados,
Há choros desesperados.
Tudo é água, tudo é dor.
A morte encobre a cidade
Envolta na vil maldade
Das águas em convulsão.
Foi nessa hora pungente
Que surgiu – por Deus clemente
Do TG – a salvação!
Os seus valentes soldados
Lembrando os feitos passados
De Caxias e Barroso,
No dilúvio pavoroso
Entram com futura inaudita
E à tempestade maldita
Procuram tudo salvar.
A avalanche leva tudo
Aumenta mais sem parar,
O heróico bravo, contudo,
Não tem medo de lutar.
Tira os calçados e a farda
O bravo não se acovarda
Seus irmãos vão se afogar.
Entra nas casas cercadas
Famílias desesperadas
Vai com seus braços salvar.
Por sobre a fúria ululando
Um pobre ser vai rolando
Enfraquecido a gritar.
O bravo não hesitando
Em si próprio não pensando
Num movimento arrojado
O pobre ser desgraçado
Vai lá no fundo buscar.
Mostra o herói altaneiro
Que o soldado brasileiro
Sabe suas vestes honrar.
Mesmo sem guerra e sem nada
Sem metralha e sem fuzil
Quis mostrar à terra amada
Que tem no peito o Brasil.
Essa bravura arrojada
Do grato povo na voz
Há de ficar bem guardada
No peito de todos nós.
Parabéns, atiradores
De Americana, entre dores
Entre lembranças que dói;
Hoje sois o orgulho justo.
E amanhã, num marco, augusto
Que o tempo nunca corrói,
Os vossos feitos gravados
Como profundos faróis
Viverão perpetuados
Não como simples soldados
Mas, muito mais – como heróis!
Americana, 17/12/1949